Através da recomendação de um amigo que sabia que eu estava a andar por terras turcas tomei conhecimento deste livro escrito por Guto Castro, uma história que se passa majoritariamente na Turquia e que além de muito bem escrita nos faz entender um pouco mais das tradições e cultura turca.
O livro caiu-me como uma luva durante a viagem já que estava justamente a conhecer alguns dos lugares onde se passava a história. Se esteve ou vai visitar a Turquia em breve recomendo vivamente esta leitura, o livro pode ser adquirido através do site da Amazon no seguinte link: Café Turco.
Deixo abaixo um dos trechos de que mais gostei no livro:
Ela contava que quando era ainda criança, ela estava brincando aqui perto – pois haviam vindo ao palácio para uma peregrinação, e sentiu algo escorrendo entre as pernas. Foi correndo ao banheiro e descobriu que sua primeira menstruação havia chegado. Ela sabia que isso viria cedo ou tarde e saindo do banheiro falou com a avó dela o que havia ocorrido.
Minha bisavó ficou animadíssima e já retirou um véu extra que trazia na bolsa, entregando para que minha mãe o usasse sobre a cabeça e o rosto. Minha mãe desde criança achava aquilo um absurdo e uma forma de submissão feminina. Ela pegou o véu e saiu correndo em direção à essa igreja aqui mesmo, que já era abandonada na época.
A mãe de Jasmim, minha avó, ao ver a filha correndo seguiu-a e esperou uns minutos do lado de fora da igreja. Entrou devagar e encontrou a filha sentada em um canto chorando, com o véu largado à sua frente.
A mãe abraçou a filha que começou a soluçar nos braços da mãe, dizendo quase que engolindo as palavras em meio às lagrimas que não queria ser mulher, que não queria sofrer como as mulheres, que não queria se esconder atrás de um véu.´
Minha avó disse então à minha mãe: Filha, você tem a sorte de ter nascido em uma época de transformações e revoluções. O que eu, minha mãe e a mãe de minha mãe tivemos de passar, você só passará se assim o permitir. Outras mulheres que virão depois de você, dependerão da forma como vocês enfrentarão o mundo. Cabe a você decidir o que quer.
Algumas pessoas vão tentar impor à você um fardo que não lhe pertence, vão tentar fazer com que você haja em conformidade com aquilo que eles crêem. Mas cabe a você aceitar ou não.
E, pegando o véu que estava jogado no chão, continuou: Este véu por exemplo. Você pode usá-lo como uma amarra que a prende ao passado, que esconde seu rosto e sua cabeça como se o fato de ser mulher trouxesse uma culpa maior do que a que qualquer homem traz. Enquanto dizia isso a minha avó enrolava o véu sobre a cabeça e tampava o rosto de minha mãe.
Ela então continuou: Ou você pode olhar este véu como algo que a embeleza, que a diferencia dos homens e a ajuda a alcançar outros estágios da vida, como um símbolo que você o domina e não é dominada por ele. Colocando-o sobre a cabeça, quando quer, quando precisa se proteger do sol, da chuva, da vida. Retirando-o para se mostrar ao mundo, usando-o como um lenço, um echarpe.
Ao falar isso ela ia desenrolando o véu e o amarrava no pescoço da minha mãe como um adorno.
Enfim, minha filha. Não ligue para o que a vovó disse, não ligue para o que vão dizer. Use o véu quando quiser, quando achar que deve e que precisa. Você controla o véu, não o contrário. Se você não for capaz de controlar um pedaço de pano, como controlará a sua vida?
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