Se o ditado que diz que “a primeira impressão é a que fica” valesse para mim, eu poderia dizer que nunca mais voltaria a Sofia na Bulgária, mas não é assim que as coisas funcionam para mim, é sempre mais interessante dar uma segunda chance.
Após duas noites seguidas passadas dentro de um ônibus nada confortável, atravessar a fronteira terrestre entre a Turquia e a Bulgária, enfrentar um serviço de imigração intimidatório no meio da madrugada, no meio do nada, num frio abaixo de zero, eis que chego a Sofia, o terminal rodoviário era pequeno, demasiado pequeno para a capital de um país, pensava eu, havia algumas televisões espalhadas pelo saguão, eu percebi que todos as olhavam fixamente, com algum esforço entendi que o governo búlgaro acabava de cair, belo começo, pensei eu. Eram umas 7 da manha, nevava e tinha lido antes que os motoristas de taxi do terminal rodoviário de Sofia não eram nada confiáveis, mas dada a situação de cansaço que me encontrava resolvi arriscar e apanhar um taxi para o hostel.
No site do hostel dizia que esta pequena viagem entre o terminal rodoviário e o hostel não deveria custa mais do que 5 levs, algo em torno de 2,5€. Sim, a Bulgária é um país muito barato. Como trazia uma pequena mochila e uma pequena mala, coloquei a mala no porta-malas e entrei no taxi, o motorista perguntou-me para onde queria ir, dei a indicação em inglês e mostrei-lhe no mapa, ele arrancou com o carro, num primeiro momento parecia simpático, se apresentou, perguntou de onde era, falou de futebol e tudo mais, até que, notando que ele não havia ligado o taxímetro pedi-o para que o fizesse, ele veio com a desculpa de que estava avariado, a partir daquele momento eu vi que eu teria problema.
Chegamos ao destino, o taxista estaciona o carro em frente ao hostel, a viagem não deve ter durado mais do que 20 minutos, pergunto o preço, e ele simplesmente diz: 20 levs, 3 vezes mais do que o valor considerado normal. Acho-me uma pessoa calma, mas naquele momento, não sei se foi o cansaço, ou o sentimento de estar literalmente ser roubado, fez-me dizer que não aceitava aquele preço, e que não pagaria. O taxista, com ar de poucos amigos disse-me então que caso eu não pagasse não me deixaria tirar a minha mala do porta-malas. Meu sangue subiu, as coisas que tinha de valor estavam comigo na pequena mochila que trazia junto a mim, na mala só estavam roupas, todas as minhas roupas, enfurecido, disse-lhe, pode ficar com a mala mas eu não te pago 20 levs por esta viagem. Saí do carro, ele ficou a esbravejar algo em búlgaro que eu não fiz a mínima questão de saber o significado e entrei para o hostel.
Na recepção expliquei o que havia ocorrido e disse que havia deixado o taxista lá fora. O rapaz da recepção, indignado, foi até lá e começou a discutir com o motorista do taxi no meio da rua, falavam alto, em búlgaro, o que piora as coisas, e pareciam que iam se pegar no tapa. No final, o motorista aceita receber 10 levs pela viagem, o dobro do preço normal, eu, já mais calmo e a raciocinar melhor, vi que mesmo ainda sendo injusto, as roupas que estavam na mala valiam mais do que os cerca de 10 levs, cerca de 5€ da viagem.
A questão aqui não era o dinheiro, 5€ ou 10€ não iriam me deixar mais rico ou mais pobre, o que me incomodava era o fato de saber que ele queria se aproveitar de um viajante que acabado de chegar a um novo país, sem conhecer ninguém, sem poder se comunicar na língua nativa parecia não ter outra alternativa senão aceitar pagar o preço que queria. Sei que as condições econômicas na Bulgária não são nada boas mas tal não justifica se aproveitar dos viajantes/turistas em proveito próprio, causando uma má imagem do país e de seu povo.
Felizmente não foi isso que aconteceu comigo, depois de tudo isso, já chateado, resolvi que o pior que eu poderia fazer era deixar esse primeiro episódio estragar a minha visita a Bulgária. A partir daquele momento resolvi que iria deixar aquela má impressão para trás e buscar o lado bom dos búlgaros e posso dizer que encontrei, fiz questão de ir para os cafés, bares e interagir com eles, puxar conversa, fazer novos amigos, acabei encontrando mais do que amigos, bem mais, fui muito feliz em Sofia, fiquei com uma boa história para contar e por fim, muito contente em visitar o meu 26º país.
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