Charmosa, cosmopolita, politizada, boêmia. As turbulências que colocaram a Argentina na mídia internacional, nos últimos tempos, deixaram marcas, sem dúvida. Desemprego e pobreza aumentaram em todo o país, e na capital isso não está menos aparente. Mas não adianta: apesar de todos os problemas enfrentados, a riqueza cultural e o charme da cidade permanecem sólidos como um bom corte de picanha.
Os espetáculos artísticos prosseguem nas badaladas casas noturnas e mesmo nas ruas, parques e feiras. Sem falar nas clássicas casas de tango ou do inconfundível hábito de ficar horas relaxando nos aconchegantes cafés. As baladas pós-meia-noite se mantêm firmes nas diversas boates que embalam os agitos de sábado - e domingo, segunda, terça, quarta... Para quem visita a cidade pela primeira vez como eu, bairros antigos como La Boca e suas famosas casinhas multicoloridas na rua Caminito, ou San Telmo, com seu concorrido mercado de pulgas - artesanato, antiguidades, bugigangas, etc., são roteiros obrigatórios.
O chique bairro da Recoleta preserva seu glamour, embora, é verdade, com menos ostentação do que no passado. O seu cemitério, uma das grandes atrações de Buenos Aires, com mais de 70 obras declaradas como Monumento Histórico Nacional, atrai os olhares curiosos que vagueiam num exótico passeio entre estátuas, tumbas e mausoléus. Talvez ao menos por aqui, entre inquilinos como Evita Perón, a crise econômica tenha menor repercussão. Já Palermo é o bairro do lazer, dominado por um enorme parque e muitas praças. Em sua grama o portenho desfruta aquele hábito herdado do espanhol, a siesta, ou dos ingleses, a leitura, ou simplesmente se entrega ao prazer de não fazer nada. É justamente esse modo de vida que faz a cidade ser o que é e ter a importância que tem. Enquanto uns lêem jornal e tomam café, outros protestam e batem panela. Bem-vindo a Buenos Aires, vibrante em sua essência, provinciana em seus detalhes, européia em seu desejo, sul-americana em sua vivência.
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