A Europa do lado do Brasil

Mantendo sua história intacta sob a arquitetura importada, seus parques impecáveis e suas noites agitadas, Buenos Aires está aqui do lado. Que tal ir tomar um cafezinho aqui na casa da vizinha?
Vizinho é tudo igual. Briga por causa do muro, por causa da bola que caiu no quintal. E ainda sempre acha que a grama do outro é mais verde. Nossa vizinha Buenos Aires não é diferente. Nós temos samba, ela tem tango. Nós temos Pelé, ela tem Maradona. Nós temos Caetano, ela tem Fito Paez.Nós temos feijoada, ela tem bife de chourizo. Nós temos broa de milho, ela tem alfajor. Nós temos o Amazonas, ela tem o Rio da Prata. Nós temos praias maravilhosas, ela tem classe. Nós temos bananas, ela tem manzanas. E não adianta negar: ela tem um povo que adora ir para o Brasil e vice-versa.
Carmen Miranda mostrou ao mundo o que a baiana tem. Carlos Gardel mostrou ao mundo que a melancolia portenha podia dar samba. Sabe de onde era Gardel? Ninguém sabe.
Já afirmaram que era francês, outros garantem que era uruguaio, mas uma certeza esses portenhos têm: Gardel canta cada vez melhor, não importa de onde ele seja.
Assim como o maior ídolo argentino não é exatamente argentino, o hábito de ficar horas a fio degustando um cafezinho também é tipicamente francês, e La Boca, o bairro mais famoso da cidade, é um pedaço da Itália dentro da Argentina. A única coisa realmente autêntica em Buenos Aires é o comportamento de seus habitantes. O que poderia ser um grande absurdo, já que o buenairense ou bonaerense ou, simplesmente, portenho, que tem tanto orgulho de suas manias tipicamente portenhas, não passa de uma grande miscelânea de gaúcho dos pampas com tudo que é europeu que migrou para lá no início do século. Dizer que Gardel canta cada dia melhor é uma típica mania portenha, dentre várias, é claro, como toda vizinha que se preza sempre tem.
Reclamar da vida, por exemplo. Pergunte para o portenho como ele vai e, fatalmente, você vai ouvir um tango. Ele reclama que a vida está dura. Que a taxa de desemprego ronda os 20%. Que o Brasil está caro. Que... Não dê muita bola: dizem que há mais de um século eles são assim.