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Tuesday 21 October 2008

Milão - A Itália Chique

Duomo

 

"O que você vai fazer lá? Negócios?", costumam debochar os romanos, sempre que encontram algum estrangeiro interessado em visitar Milão. Aliás, não são só os romanos. Os italianos em geral não perdem a oportunidade de dizer que a segunda maior cidade do país, apesar de rica, elegante e poderosa, é um zero à esquerda em atrativos. "Vá a Florença, fique mais tempo em Veneza", sugerem, em sua vingança particular contra os milaneses.
"Qui si lavora, a Roma si mangia" (Aqui se trabalha, em Roma se come), costumam dizer os milaneses em contrapartida, vangloriando-se da sua superioridade econômica em relação aos romanos. É a mesma rivalidade, guardadas as proporções, que existe entre São Paulo e Rio de Janeiro.
É compreensível. Milão não faz o menor esforço para desmentir o título de cidade menos italiana da Itália. Pelo contrário, gosta de ser vista como um reduto europeizado, mais moderno e globalizado que o resto do país. A esnobe Milão assume sua riqueza, às vezes, dá até a impressão de esconder seus tesouros dos visitantes. Mas, nem por isso, deve ser ignorada, muito menos por mim, brasileiro, que não tenho nada a ver com o regionalismo deles.

 

Dumo Cathedral

 

Apesar dos pesares, algumas atrações milanesas são pomposas demais para passarem despercebidas. É o caso, por exemplo, do Duomo, a maior catedral gótica da Itália, ornamentada com nada menos que 3000 estátuas! É uma construção tão meticulosa, que levou cinco séculos, ou exatos 511 anos  para ficar pronta.
Ainda na Piazza del Duomo, a apenas alguns passos da catedral, a Galeria Vittorio Emanuele fervilha de gente. Majestosa, com um portal da altura de oito andares, piso de mármore e magníficos vitrais na cobertura, a galeria é outro ícone da cidade. Erguida numa época em que ainda não havia shopping centers, é uma espécie de rua coberta, mas imagine uma rua muito mais ampla e suntuosa do que qualquer avenida com um telhado em cima. Milaneses e forasteiros, sejam milionários ou durangos como eu, passam horas ali dentro, indiferentes ao tempo que estiver fazendo lá fora.

 

Galeria Vittorio Emanuele

 

Galeria Vittorio Emanuele

 

Galeria Vittorio Emanuele


Todos circulam à vontade entre as lojas e restaurantes da galeria, mas é fácil distinguir um grupo do outro, e não só porque os locais sejam mais formais e elegantes na maneira de vestir do que os visitantes em geral. É que eles nunca participam de um ritual para o qual os visitantes fazem fila, pisar com um dos calcanhares nos testículos de um touro pintado no chão, bem no centro da galeria, e girar o corpo numa volta completa. O efeito, dizem, é o mesmo prometido pela moedinha que se joga na Fontana di Trevi, em Roma, dá sorte, garante a volta do forasteiro à cidade. Na verdade, esta é a melhor prova de que o milanês, ao contrário de todas as lendas, possui senso de humor. É só observar o olhar maroto dos sisudos senhores por cima do jornal, espiando tamanha ridícula cena. 

 

Castelo Sforzesco

 

Castelo Sforzesco

 

Uma outra atração imperdível de Milão é o Castelo Sforzesco. Construído por volta do ano de 1350, é hoje um imenso museu, carregado de obras valiosíssimas, entre elas, a última escultura de Michelangelo, a Pietà Rondanini, inacabada, por sinal. O castelo porém, era mais freqüentado por outro gênio do Renascimento, Leonardo da Vinci, que viveu aqui dos 30 aos 47 anos.

 

A Ultima Ceia 

Leonardo voltou a Florença em 1499, quando Milão caiu nas mãos dos franceses, mas deixou na cidade uma de suas obras mais marcantes, o Cenaculo, um afresco de nove metros de comprimento por quatro de altura, gravado numa parede do convento de Santa Maria delle Grazie. É o quadro mais famoso que existe da última ceia de Cristo, e também o mais copiado. Mas até pouco tempo, poucos sabiam que o original ficava em Milão. No entanto com o sucesso do livro "O Código da Vinci" que faz menção a obra o número de visitantes que querem ver a obra é imenso. É necessário reservar a visita meses antes pela internet, pensei mesmo sem reserva tentar ver esta obra prima de Leonardo da Vinci pois haviam me dito que é comum algumas pessoas não aparecerem para a visita, mas para minha infelicidade o convento não é aberto ao público nas segundas-feiras e este era o meu único dia em Milão. Para os amantes da arte, este já é um motivo suficiente para visitar e no meu caso retornar a Milão. As pessoas com quem conversei e que já viram a pintura dizem que a harmonia da cena e a riqueza de detalhes nas expressões de Jesus e seus 12 apóstolos costumam hipnotizar os espectadores por longos minutos.

 

Teatro Scala

 

Assim como não alardeia a obra-prima de Leonardo, Milão também não mexe um dedo para dar ao Teatro Scala uma aparência mais vistosa e condizente com a sua fama. De fato, quem passa pela primeira vez diante desse teatro lírico, que não é só o mais importante de Milão, mas de todo o mundo, não faz a menor idéia do palco deslumbrante, e carregado de história, que existe por trás da sua fachada discreta e cinzenta. Dentro, porém, o Scala surpreende com a mais luxuosa combinação de vermelhos e dourados jamais vista num teatro. Um lustre de cristal com 365 lâmpadas pende, cintilante, do teto. Na sala de espetáculos, espalham-se 3000 lugares, embora, por medida de segurança, só sejam vendidos 2000 bilhetes por vez. Infelizmente não é permitido tirar fotos do interior do teatro mas sem sombra de dúvida vale a visita.
Além de mais solene, o Scala também é o palco mais severo para os artistas líricos. Da mesma forma como os torcedores brasileiros vaiam até minuto de silêncio em jogos de futebol, o implacável público milanês também não perdoa a menor hesitação de tenores e sopranos. Em compensação, uma consagração no Scala tem um valor eterno. Pavarotti, que aqui já foi vaiado e aplaudido de pé, que o diga.

 

A sofisticada Milão também sabe ser hospitaleira, boêmia e generosa. Só é preciso estar no lugar certo e na hora certa. Como nas ruas estreitas do charmoso e tradicional bairro de Brera, não tive a oportunidade de ver mas dizem que nas manhãs de sábado, acontece a feirinha de antiguidades da Via Madonnina, com uma notável oferta de badulaques. O mais engraçado na minha opinião foram os nomes peculiares das ruas vizinhas, como Via Fiori Chiari (Flores Claras) e o da Via Fiori Oscuri (Flores Escuras), também revelam o lado mundano da cidade, referem-se às belas "flores" que um dia habitaram a região, as prostitutas. Hoje, seus antigos apartamentos são disputados a tapas, mas o ambiente boêmio permanece nos inúmeros bares e bistrôs. São dezenas de lugares que fervilham à noite segundo alguns milaneses, com música ao vivo, geralmente jazz.

 

De Brera você poderá voltar a pé para o centro, atravessando o chamado quadrilátero da moda, formado pelas vias Montenapoleone, Della Spiga, Santo Spirito e Sant´Andrea, onde ficam as lojas mais chiques de Milão.
Rica e moderna, Milão não esconde que está em luta aberta para tirar de Paris o título de maior centro da moda mundial. Mas essa é outra briga que eu decidi não comprar. Deixe que eles, italianos e franceses, se entendam. E sigo em frente, apenas apreciando as mulheres mais elegantes que já vi, todas com roupas sofisticadas, sempre bem maqueadas, desfilando pelas ruas como se as calçadas fossem passarelas da moda, os homens também não ficam para trás e se vestem muito elegantemente, ajudando a cidade a manter o título de capital da moda italiana.

 

No entanto a conclusão que tiro desta visita é que ao contrário do que muitos possam dizer, Milão vale sim uma visita, a cidade definitivamente não se resume às vitrines de suas centenas de lojas de griffe. Milão também não tem os monumentos mais importantes da Itália, nem os maiores museus, mas é a cidade mais rica e moderna do país. Tem indústrias poderosas, griffes de alta costura que ditam a moda e o design mundial e times de futebol milionários. Se tudo isso ainda não é motivo para uma visita a Milão venha somente para saber quais serão as novas tendências da moda, não precisa comprar, até porque tudo em Milão costuma ser muito caro, mas já serve para ter algumas idéias para uma renovação do seu guarda-roupa quando retornar a casa.

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