My dream is having all this map painted in red

Monday 23 July 2012

Um hábito peculiar

Desde quase tantos anos quanto tenho, me dedico a um hábito peculiar de rastrear com mil perguntas o movimento dos aviões que sobem, sem esforço, e cortam o vento.

Intrigado com os segredos de seus rumos, os vejo pequeninos pela distância e engrandecidos pela inveja de lá estar, enquanto tento adivinhar de onde vem, para onde vão. Durante este breve parêntesis em que meus olhos podem seguir a sua trajetória, eu embarco em um jogo de acertos e conjecturas pelo puro prazer de jogar suposições comigo mesmo.

Então me pergunto pelos viajantes e as circunstâncias, quantos serão e quem serão, as razões que os levam e os motivos que os trazem, pelas cidades que lhes aguardam e as surpresas que lhes esperam. Quanto mais intrigante fica o jogo mas breve é o resultado deste instante em que por alguns segundos meus pés e minha cabeça marcam a distancia entre o céu e a terra, entre o peso da realidade e as asas dos meus desejos.

Certamente, não são estes jogos viajantes as minhas mais autênticas viagens. Quando comparo com as viagens reais, aquelas que de fato me levaram para alguns dos lugares que sempre quis visitar, esta comparação sempre resulta ser tão efêmera e vazia. Não encontro nestas comparações o protagonista de nenhuma experiência, a lembrança de nenhuma companhia. Não me deixa nenhum dos laços que faz a minha memória atar a cada viagem suas recordações. Nem os odores, nem os sabores, nem rios nem mares, nem fotos nem vídeos, nem sombras nem perfis, nem sequer a cor de um por-do-sol ou o sabor de um manjar.

Nada disso é deixado para trás nestas minhas viagens virtuais. Nem mesmo quando cada avião some na distância e se perde no mistério do nada, onde meus olhos já não o pode alcançar, eles sempre me deixam algo que eu imensamente aprecio, uma incessante impaciência para voar novamente, uma vontade infinita de seguir sempre viajando.

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