My dream is having all this map painted in red

Monday, 26 November 2007

Barcelona - Mais guapa que nunca!



Barcelona bolleix. Entendeu? Aposto que não. Isso quer dizer "Barcelona ferve" em catalão, idioma que é uma mistura de italiano, francês, latim e espanhol. Uma língua que só se fala na Catalunha, onde a cultura e os hábitos típicos são incentivados e os cardápios e as placas estão geralmente em catalão e em espanhol (nesta ordem), a Catalunha é uma região da Espanha altamente nacionalista, cuja capital é Barcelona, a cidade que visitei este fim de semana. Em todos os museus, menus e metrôs, ouve-se o catalão, duríssimo de entender as vezes, apesar de algumas palavras serem até parecidas com o português. Se você achava que toda a Espanha falava espanhol se enganou. O catalão é mais um atrativo cult para os turistas que entopem os hotéis e arrastam as mochilas e malas pelas ramblas, os calçadões fervilhantes da cidade. Barcelona é uma festa permanente, e põe festa nisso, uma orgia visual, gastronômica e acústica, possui uma das mais agitadas noites da Europa e se você um dia vier a Barcelona a melhor dica que posso lhe dar é dormir pouco, ou melhor durma o máximo que puder antes de chegar aqui pois depois Barcelona não irá te deixar dormir.
Prenda a respiração e prepare seu espírito, você estará entrando na cidade das artes e da diversão.



Chegando em Barcelona talvez você sinta falta de alguns estereótipos espanhois, como o flamenco (mais típico em Madrid), faz tempo que os suvenires de Barcelona deixaram de ser leques, castanholas ou chapéus de toureiros como no resto da Espanha. A moda e o design ousados (e põe ousados nisso) são tentações turísticas irresistíveis de Barcelona. A magnífica Catedral da Sagrada Família, de Gaudí, continua deixando os turistas boquiabertos, mas Barcelona tornou-se uma das capitais mais provocantes e modernas do Mediterrâneo. Na minha opinião Barcelona não é uma cidade, é um palco, um cenário com linda vista para o mar mediterrâneo que encanta os visitantes que aqui chegam.
Aqui, tudo está em movimento, tudo conspira a favor da renovação, tudo acontece num ritmo vertiginoso. A única coisa que permanece sempre a mesma é o talento de continuar sendo a cidade do momento e conquistar quem pisa aqui pela primeira vez como eu.



A noite de Barcelona é tão grande que não cabe na disposição da mais baladeira das pessoas. Não é só uma questão de decorrer de horas, é uma seqüência delirante de restaurantes, bares, boates, shows que não acabam mais.
O marco divisório da transformação, a engrenagem que fez renascer a cidade, tem o formato de cinco círculos entrelaçados, as Olimpíadas, no caso as de 1992, obviamente sediadas em Barcelona. Perto de Montjuic, uma das montanhas que circundam Barcelona, numa área até então mal aproveitada, nasceu a Vila Olímpica. A leste e a oeste, apareceram estádios. A beira mar, o agito de Barceloneta, região que ferve durante a noite. Foi também por essa época que a cidade que, mesmo com toda sua animação, tem apenas 1,6 milhão de habitantes, pequena se comparada a São Paulo ou Rio de Janeiro, cresceu turisticamente com a construção de hoteis, pousadas, pensões e hostels.
Engatada à reforma física, veio junto a reforma moral. Um tanto surrado pelas idas e vindas da história (fato esse que explico em outro post), o orgulho catalão firmou o passo, levantou a cabeça e encheu o peito, e olhe que orgulho catalão, mesmo nas épocas de baixa estima, é orgulho que não acaba mais. Nunca cometa a bobagem de achar que Barcelona e o resto da Espanha são a mesma coisa. Se você acredita que rivalidade entre cidades é aquilo que praticam paulistanos e cariocas, é porque você nunca pisou em Barcelona. Confundir um barcelonense com um madrilenho é o caminho mais curto para entrar numa irrevogável lista negra, o povo chega a detestar ver o nome Catalunha escrito com a grafia castelhana, Cataluña, o certo é Catalunya, com a caligrafia catalã. Faça um teste, pergunte a um barcelonense típico se ele é espanhol. Você tem nove chances entre dez de a resposta ser: "não, não, eu sou catalão" (dito de maneira séria).



A rivalidade acontece também nos gramados entre os dois maiores clubes de futebol da Espanha, Real Madrid e FC Barcelona. O barcelonense é fanático por futebol e pelo Barcelona , time que já foi de Romário e hoje reverencia o ídolo Ronaldinho (Gaucho) como se ele fosse o artilheiro que irá redimir todas as frustrações de todos os campeonatos espanhóis, passados, presente e futuros.
Cultuar o barça (nome carinhoso que usam pare se referirem ao time) é algo típico dos catalões.
Mas ser catalão não é só gostar de futebol, ser catalão significa ser um trabalhador incansável, Barcelona é a cidade mais rica da Espanha, tem um dos portos mais importantes da Europa, sendo o principal porto de navios de cruzeiros, cidade da ópera (berço da soprano Monserrat Caballé, que, junto com Freddie Mercury, ex-vocalista do Queen, lançou um disco chamado, justamente, Barcelona) e da pintura (Miró por nascença e Picasso por adoção).



Mas se existe algo ou alguém que traduz para um turista o que é a alma catalã, ou a parte visível desse espírito, é a obra arquitetônica, pois a arquitetura é um dos maiores combustíveis do orgulho catalão. Principalmente a do inconfundível mestre Antoni Gaudí, o homem que é uma espécie de sinônimo de Barcelona. O próprio cartão-postal da cidade, a Catedral da Sagrada Família, assinada por ele, é o melhor exemplo disso. É uma construção impressionante, para dizer o mínimo, uma vez que não há adjetivo que a descreva, fiquei em estado de choque ao olhar para construção de tamanha beleza. Ela mais parece um castelo de praia feito de areia molhada, e não uma igreja convencional, só que um castelo com fachadas magnificamente trabalhadas e torres ernormes.
A construção da Sagrada Família começou em 1882 e não tem data marcada para terminar, se tudo der certo, ela só ficará pronta daqui a uns cinqüenta anos. Além de ser uma obra em processo, outra curiosidade é que a catedral mais famosa de Gaudí começou sem ele e vai terminar sem ele. No início, outro arquiteto era o responsável por ela, o grande mestre só assumiu o comando em 1883. Atropelado por um bonde, Gaudí morreu em 1926. Mas, mesmo sem estar por perto para pilotar a construção, suas orientações foram suficientes para legar à humanidade uma obra incomparável, que quando ficar pronta, terá muito mais torres e quase o dobro da altura.
Dizem os barcelonenses que as pessoas costumavam perguntar a Gaudi quando sua catedral ficaria pronta e ele dizia: Não se preocupe, meu cliente tem todo o tempo do mundo. Numa referencia que o seu cliente era Deus e Deus não tinha pressa.
Mas, seja como for, em outras capitais da Europa há igrejas muito bonitas mas nunca como a Sagrada Família.



A contribuição de Gaudí a Barcelona vai muito além do terreno religioso, embora quase todas as suas obras tenham conotações reliosas mas sempre possuindo detalhes da natureza, sua principal fonte inspiradora, talvez por ter crescido no campo. A cidade, que já seria linda sem qualquer uma dessas obras, tem outras dez construções que levam a sua assinatura, sendo que pelo menos três são imperdíveis.
Para quem tem pouco tempo disponível na cidade como eu, a pedida é hospedar-se perto das Ramblas e do Barri Gotic (bairro gótico). Reserve com antecedência, especialmente se for no fim de semana. Barcelona está em febre contínua de feiras e congressos e não é raro ouvir que os hotéis ou albergues estão lotados. É bom acostumar-se a ouvir todas as línguas na rua, porque Barcelona virou um dos destinos favoritos entre os europeus para os chamados city breaks, viagens curtas de três dias. Compre um mapa da Cidade Velha, que inclui Las Ramblas, La Ribera, El Raval e o Barri Gotic. Não olhe para o mapa o tempo todo, porque você arrisca perder o melhor da cidade que é abandonar-se pelas ruazinhas estreitas e perder-se pela cidade, entre num bar e tome um cortado (café com leite), ou um chocolate quente. Não gostou? Então, encare uma taça de Cava, o champanhe catalão, uma cerveja ou um vinho tinto e aproveite cada momento nesta linda cidade da Espanha.



Permita-me, apenas, um último conselho: se você está em busca de calma e sossego, procure outro destino. Mas, se você quer se envolver com uma cidade um pouco árabe, um pouco nova iorquina e muito catalã, está na hora de descobrir a Barcelona do século XXI.
Depois de uma visita a Barcelona, qualquer pessoa nunca mais será a mesma. Você pode voltar tranqüilo para casa, no ritmo que a cidade caminha, também ela não será mais a mesma se um dia voltar a visita-la.
Será muito melhor!!!

2 comments:

Unknown said...

NOSSA!!
cada lugar mais lindo que o outro..
:-D
que bom que esteja aproveitando!

Chef Cosme said...

"tudo está em movimento, tudo conspira a favor da renovação, tudo acontece num ritmo vertiginoso". Nem mais! Este ano também fui a Barcelona (pela primeira vez e estou mesmo aqui ao lado...) e adorei! É uma cidade com vida, muita vida! O bairro gótico é divino e cada esquina é uma surpresa.
Beijinhos e fico à espera de texto sobre o Alentejo! ;)