My dream is having all this map painted in red

Sunday 22 March 2009

Pra lá de Marrakesh

 

 

A viagem à parte marroquina do Deserto do Saara é daquelas coisas que entraram para os momentos inesquecíveis da minha vida. Uma experiência que por mais velho que eu fiquei as lembranças nunca sairão da minha memória.

 

Era uma terça-feira, tive que acordar cedinho, por volta de 06:00hs da manhã pois ia encontrar com o resto do grupo na praça “Jma el Fna” às 07:00hs. O grupo era formado por 14 pessoas, 4 alemães (3 meninas e um rapaz), um muito simpático casal de franceses, um outro casal onde o marido era belga e a esposa holandesa, dois amigos espanhóis a viajar juntos, uma senhora e um rapaz holandêsese que viajavam sozinhos, um japonês e um brasileiro (eu!!!) mais o nosso motorista que supostamente deveria falar francês mas que mais tarde descobrimos falava somente árabe.

 

Nos encontramos no horário combinado e partimos em direção ao sul do Marrocos para vermos o tal deserto. Viajaríamos o dia todo até Merzouga, a cidade conhecida como as portas do deserto marroquino, onde pegaríamos os camelos e andaríamos mais 3 horas até nossa tenda montada no meio do deserto.

 

Mas até chegar lá muita coisa aconteceu. Ao sul de Marrakech existe uma cadeia de montanhas enormes, conhecidas como Atlas, o Atlas sempre foi uma barreira natural entre o norte e o sul do Marrocos, tanto é que não há trens para o sul do Marrocos, seria impossível transpor estas montanhas com uma linha férrea.

 

 

 

Para chegar a Merzouga uma estrada sinuosa, sem acostamento e cheia de curvas nos leva montanha acima, com penhascos altíssimos, olhar para baixo era de dar medo e um tremendo frio na barriga mas trazia um bocado de aventura e eu adoro aventuras, um simples deslize do nosso motorista marroquino e não sobraria nada de nada dessa salada de nações a bordo do nosso mini ônibus.

 

Ao chegarmos ao topo do Atlas a visão era magnifica, neve, muita neve. Sim, quem disse que não há neve na África??? Paramos em um café que ficava bem no topo do Atlas, a vista era de tirar o fôlego, apesar que eu já estava sem fôlego de pensar na possibilidade de rolarmos penhasco abaixo. Não havia melhor momento para tomar mais um copo do tradicional chá de menta para aquecer o corpo pois naquele ponto da montanha a temperatura que era exibida no termômetro do mini bus era de 5 graus negativos. O gelo tomava conta de tudo naquela parte do Marrocos e a sensação de frio era ainda pior devido aos fortes ventos que teimavam em soprar.

 

Chá tomado e retornamos a estrada, ainda tínhamos muito chão pela frente e confirmando a lei da gravidade, tudo que sobe tem que descer, e esta era a próxima etapa da viagem, descer o Atlas com nosso simpático motorista que só falava árabe. Como eu tinha sentado na parte da frente acabei por ser a pessoa com a dura tarefa de "comunicar" com o motorista, pedir informações e repassar ao resto do grupo. Com poucas conversas eu já tinha percebido que até o fim da viagem eu aprendia árabe mas não conseguiria fazê-lo entender minhas perguntas em inglês ou francês. Mas o fato importante é que ele sabia o caminho a seguir e nos levaria ao deserto e isso era tudo o que nos interessava naquele momento.

 

 

Terminada a descida do Atlas a paisagem mudou drasticamente, a estrada sinuosa continuava sem acostamentos mas agora era uma reta a perder de vista, a neve tinha dado lugar a uma paisagem árida, seca e em poucas horas saímos de uma temperatura de 5 graus negativos para 32 graus positivos, acho que nunca em minha vida tinha sofrido uma mudança de temperatura tão brusca.

 

 

 

 

Pelo caminho fizemos diversas paradas para cafés, idas ao toilet (leia-se mato, quando havia mato para ir), compras de artesanato local, fotos em lugares fantásticos e mais tentativas sem sucesso de comunicação com o motorista. Sem perceber o grupo de viajantes havia se tornado uma pequena família onde bolachas, bolos, garrafas de água e refrigerantes eram partilhadas entre os viajantes e ríamos da nossa falta de comunicação com nosso motorista.

 

 

 

 

Finalmente, após horas de uma cansativa viagem chegamos a Merzouga e até as portas do deserto. De longe já avistávamos o início do deserto e ao aproximarmos mais, vimos nossos camelos que nos levariam pela próxima etapa da viagem, estávamos ansiosos, e ver o deserto já não era mais suficiente, precisamos tocar a areia, sentir quão fina ela era, sentir a alma do Deserto do Saara.

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