Assim como Toledo, outra opção imperdível para um bate-volta à partir de Madri é Segóvia.
Numa poética forçadinha de barra, os espanhóis costumam comparar Segóvia a um navio. Na proa, erguido sobre um penhasco, fica o Alcázar, palácio fortificado com seus torreões em ponta e visual de contos de fada. Já a catedral da cidade, último grande templo gótico erguido na Península Ibérica (século XVI), seria o miolo da embarcação e seus pináculos, os mastros. Modernizando a metáfora, o filósofo madrileno Ortega y Gasset comparou-a a "um enorme transatlântico místico". Bonito isso...
É na popa, porém, fazendo as vezes de leme, que se encontra o grande marco de Segóvia, seu mais eloquente cartão-postal, o aqueduto, uma das obras da engenharia romana mais bem preservadas até hoje, comparável, em beleza e magnitude, ao Coliseu romano ou à Arena de Verona. Construído nos primeiros anos da era cristã e utilizado até o final do século passado, ele é o trecho final de um sistema de 12 quilômetros, que captava água do Rio Frío, na vizinha Serra de Guadarrama, e a trazia fresquinha até a parte alta da então romana Segóbriga. Traçando um V ao longo de seus 728 metros de extensão, hoje ele atravessa a Plaza del Azoguejo, antigo mercado ao ar livre e atual coração de Segóvia.
Tem 118 arcos e 25000 blocos de granito encaixados a seco, sem nenhuma argamassa. É fruto da mais pura matemática, em que uma única e decisiva pedra, a chave, se encarrega de transferir todo o peso da estrutura para o chão, mantendo-a suspensa. Parece flutuar. Resumindo, uma maravilha!
Em torno desse monumento quase irreal, Segóvia exibe sua beleza suave, com cerca de 3000 metros de muralhas a circunscrever o seu centro histórico. Uma caminhada por esse navio de popa a proa, do aqueduto ao Alcázar, revela ao visitante, em pouco mais de dois quilômetros, suas maiores atrações, a tranquilíssima Plaza Mayor, defronte à catedral, e seus cafés animados, a Judería, antigo bairro judeu, e sua sinagoga, a biblioteca, o Museo Casa del Sol, a charmosa Plaza de Las Sirenas e, por fim, as igrejas de San Martín e San Esteban, ambas românicas, a segunda dotada de uma curiosa torre de três andares com janelinhas nos seus quatro lados. O regresso se dá pela Calle Mayor e seu comércio colorido. E termina exatamente no enigmático aqueduto onde começou nosso passeio.
O que mais chama a atenção em Segóvia é que a cidade está muito bem conservada, fazendo dela um destino perfeito para uma visita de um dia a partir de Madri. Além disso, a cidade é atualmente candidata a Capital Europeia da Cultura com o projeto Segovia 2016, o que pode deixar a cidade ainda mais apetecível para uma visita, o lugar é perfeita para o evento na minha opinião.
Gastronomia:
Ao visitar Segóvia não deixe de experimentar o cochinillo (leitãozinho), o prato típico da cidade. Trata-se de um porco ibérico, um animal que se alimenta exclusivamente de um tipo de romã abundante na Península Ibérica. O tal suíno não come qualquer coisa. Por isso sua carne fica mais macia, menos gordurosa e mais apetitosa. Aliás, para evitar gordura adicional, os leitões consumidos nos restaurantes de Segóvia têm apenas duas semanas de vida. Se você for um ecologista ou um vegetariano, a recomendação fica sendo até de mau gosto. Se você for um gourmet, não perca!
A casquinha é fina e crocante. Se rompe em mil pedacinhos. E a carne é macia, suculenta. Não há um vestígio sequer de gordura pura aparente. Para assá-lo é preciso um forno lento para que a gordura penetre pouco a pouco na parte magra, que ganha um tom rosado e um sabor aromático. O ponto é quando a pele está fina, crocante, dourada e uniforme e a carne, macia.
Recomenda-se um dos ótimos vinhos espanhóis para acompanhar e como sobremesa não deixa de experimentar o Ponche Segoviano.
Como Chegar:
Para chegar a Segóvia a partir de Madri a maneira mais fácil é de trem (comboio). Os trens para Segóvia partem da estação Madrid-Chamartín, localizada na zona norte da capital espanhola. Convém por segurança chegar 30 minutos antes da hora da partida pois desde os atentados terroristas na estação de Atocha em Madri as bagagens dos trens também devem passar pela máquina de raio-x.
Há várias partidas por dia e o preço varia de acordo com o horário. No meu caso o bilhete de ida e volta ficou em 19,10€. A viagem é feita em trens de alta velocidade e leva somente 30 minutos. Os horários podem ser consultados através do site da renfe, empresa de trens espanhola. Infelizmente o site da renfe não se dá muito bem com cartões de crédito emitidos fora da Espanha o que dificulta um pouco a compra através do site. No meu caso comprei o bilhete diretamente na estação, se a viagem for ser realizada nos fins de semana recomendo a compra dos bilhetes com antecedência pois estes costumam esgotar-se devido a procura dos turistas em Madri.
O trem para na estação Segovia-Guiomar que não fica próxima da cidade, entretanto há ônibus (autocarros) que o poderão levar até o centro da cidade numa viagem de 15 minutos. O bilhete do ônibus custa 0,90€ por trajeto e os horários acompanham as chegadas dos trens.
Observação:
Todos os preços citados neste post são referentes a Agosto de 2011 e servem somente para ter uma noção do que o viajante irá gastar.
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